Monstros japoneses: demônios e fantasmas do submundo

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Toda cultura tem seus fantasmas assombrações, o mesmo ocorre na cultura japonesa na forma de yōkai (妖怪). Composto por dois kanjis que representam “fascínio” e “mistério, suspense”, eles também podem receber nomes diferentes como ayakashi ou mononoke (soa familiar? Um filme famoso do Ghibli, talvez?). Yōkai são monstros japoneses que vivem vagando pelo mundo humano, outros são malignos e há aqueles que escolhem não se associar ao mundo humano.

Eles normalmente têm habilidades sobrenaturais, como a de se transformar e também podem assumir a forma de animais, como o Kappa, uma espécie de tartaruga. Essas características remontam o animismo japonês, misturado com crenças filosóficas do budismo e do xintoísmo. De acordo com essas crenças, espíritos chamados mononoke (物の怪) — posteriormente divididos em nigi-mitama (boa sorte) e ara-mitama (má sorte) – vivem em todas as coisas.

Ara-mitama são convertidos em nigi-mitama através de rituais, contudo, caso estes rituais falhem devido à falta de veneração, os ara-mitama viram yōkai. Esses yōkai são populares desde a Idade Média e existem certos tipos conhecidos pelos japoneses desde a infância.

Tipos de fantasmas e aberrações

Kappa statue

Kappa (河童)

A Kappa, literalmente a “criança do rio”, é um yōkai que remonta os tempos antigos. Ele existia para assustar as crianças, fazendo-as ficar longe de áreas de águas profundas. Afinal, afogar-se não é uma grande preocupação se comparado a encontrar um monstro, certo?

Semelhante a um humano, com mãos, pés e casco de tartaruga, a Kappa também tem um prato de água na cabeça. Este prato representa a sua força vital e, caso a água seja derramada, a Kappa enfraquece. Estes monstros japoneses são vistos como traiçoeiros. Eles podem chegar ao extremo de sequestrar e estuprar mulheres.

As Kappa adoram pepinos. Na antiga Tóquio, existia uma tradição na qual as pessoas escreviam o nome de seus familiares em pepinos e os jogavam no rio para acalmar as Kappa. Procurando proteção antes de nadar no rio? Traga um pepino!

Tengu (天狗)

Tengu significa “cachorro celestial” e é considerado um dos deuses da religião xintoísta, assim como, um demônio e presságio de guerra no budismo. Alguns são ruins, outros são bons: eles possuem várias formas, especialmente a de um grande pássaro em forma de homem, com o rosto vermelho e nariz ou bico comprido. Costumam ser representados segurando um leque feito de penas (羽団扇) com o poder de convocar poderosos ventos.

Os Tengu são conhecidos por serem contra o budismo, sequestrando monges e os jogando em lugares distantes. Eles controlam as mulheres com o objetivo de seduzir homens religiosos, para que possam saquear templos e se disfarçar de falsos sacerdotes. Com o tempo, a imagem do Tengu foi sendo suavizada, a ponto de, em alguns casos, eles serem considerados divindades. Alguns os consideram como defensores das florestas, portanto, se estiver caminhando pelas muitas belas florestas do Japão, fique de olho nestas criaturas de nariz comprido!

Kitsune statues

Kitsune (狐)

Kitsune é a palavra japonesa para raposa, sendo similar ao folclore ocidental. São animais considerados inteligentes. Na mitologia japonesa, contudo, eles possuem a habilidade de mudar de forma e causar pequenas confusões. São conhecidos por assumir o controle de mulheres através de suas unhas ou seios, um truque conhecido como kitsune-tsuki (狐付き).

Estas raposas vivem bastante, são inteligentes e possuem poderes mágicos. Existem as que são boas e ruins, algumas possuindo até 9 caudas – com o maior número representando maior poder. Acredita-se que depois de atingir 1 mil anos de idade e ganhar a nona cauda, a kitsune se transforma em uma raposa celestial dourada (天狐, tenko). Interessado em ver estes guardiões em toda a sua grandeza estoica? Dê um pulo no santuário Fushimi Inari em Kyoto, onde estes espíritos vigiam silenciosamente os visitantes.

Tanuki statue

Tanuki (狸)

tanuki se enquadra na categoria de monstros japoneses, mas eles também são de uma categoria única! Esses cachorros-guaximins (e eles são realmente isso!) são travessos e podem assumir a forma humana. Eles são fáceis de serem encontrados, pois basta um passeio por um dos muitos becos do Japão para avistar uma estátua tanuki do lado de fora de um izakaya ou ao fazer compras, quando o tanuki aparece como um sinal de boa sorte e riqueza.

Kodama (木霊)

Kodama são espíritos que habitam as árvores, semelhante às Dríades da mitologia grega. Eles são considerados deuses das montanhas e, em algumas partes do Japão, orações são feitas a cada kodama antes que uma árvore seja cortada. Sua aparência varia de luzes fantasmagóricas a figuras mais humanas, como a de certas criaturas que aparecem em Mononoke Hime do estúdio Ghibili.

Tsukumogami (付喪神)

No folclore japonês, as ferramentas que atingem os 100 anos de idade adquirem um espírito e uma identidade. O nome desta criatura significa “objeto divino”. Ela é um item inicialmente inanimado, que passa a ter alma própria e fica com raiva quando tratado com descaço.

Não é uma má ideia ensinar algo novo, não é? Cada item não deve ser desperdiçado ou jogado fora tão rapidamente. Honrá-los e fazer uso deles ajuda a manter o mundo muito mais limpo.

Amabie illustration on a chip packet

Amabie (アマビエ)

Este yōkai semelhante a uma sereia tem um bico como boca e três pernas. O único registro documentado do amabie é uma xilogravura de 1846 que o descreve emergindo na frente de um oficial onde hoje é a atual província de Kumamoto. Ele é ligado a duas profecias opostas: rica colheita ou epidemia. O amabie obriga as pessoas a desenharem uma imagem dele e compartilhá-la para se livrar da epidemia.

Yūrei

E então, há os espíritos dos mortos, incapazes de alcançar a paz após a morte, e que ficam presos e sofrendo no limbo. Os dois kanjis 幽霊 (yūrei) significam “fraco” ou “escuro” e “alma” ou “espírito”. Um yūrei típico tem cabelo preto, comprido e bagunçado (ainda por cima assustador), roupas compridas, mãos penduradas e sem vida, às vezes, sem pernas e são circundados por chamas flutuantes.

Segundo as crenças tradicionais, quando uma pessoa morre, seu reikon (espírito) vai para o purgatório, onde aguarda o funeral adequado e também os rituais necessários para que possa viajar para um local tranquilo e junto de seus ancestrais. Yūrei são reikons que foram interrompidos durante este processo. Assassinato, suicídio, vingança, ódio ou tristeza estão entre alguns dos muitos sentimentos fortes que deixam um yūrei preso entre nosso mundo e o outro mundo. Para que ele possa seguir em frente, os ritos devem ser realizados por completo ou o conflito que o envolve deve ser resolvido.

O folclore e as histórias de fantasmas do Japão são bem profundos. Um simples artigo dificilmente ensina o suficiente, mas uma viagem ao Japão é uma boa maneira de ver o quão complexo são estas crenças. Passeie por museus, leia livros ou, simplesmente, viaje por estradas e visite os marcos históricos de todo o país. Vale a pena.

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