O relato de Andre, um estudante brasileiro no Japão

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São muito comuns no Brasil o relato de descendentes japoneses (nikkeis) indo para o Japão trabalhar, usando seus vistos de nissei ou sansei.

Mas fala-se pouco sobre brasileiros no Japão que não tem descendência e vieram como estudantes, seja para aprender o idioma ou para fazer uma faculdade. Por isso hoje vamos entrevistar Andre, um brasileiro sem descendência que usou o Go! Go! Nihon para vir ao Japão com um visto de estudante para estudar japonês na KAI Language School.

Bom dia Andre. Por favor fale um pouco sobre você. De onde você é?
Eu sou brasileiro, de São Paulo. Sempre gostei de viajar e conhecer outras culturas. O amor pelo Japão veio logo cedo na adolescência assistindo animes na televisão e indo a eventos em São Paulo, Rio de Janeiro e Santos. Fiz ótimas amizades nessa época (seja em eventos, seja na internet) que perduram até hoje. Inclusive alguns deles foram me visitar enquanto eu morava em Tokyo.

O que você fazia antes de vir ao Japão?
Eu estava morando e trabalhando em Londres. Me mudei para cá em 2012, mas sempre quis passar um tempo no Japão (já tinha visitado em 2010, quando me apaixonei de vez). Aconteceram umas mudanças na empresa em 2016 que eu trabalhava e pensei “essa é a hora de fazer algo radical (de novo rs) e ir morar e estudar no Japão.” E foi o que eu fiz. O processo todo demora um pouco então não dá pra você ir da noite pro dia, precisa de planejamento e economia.

Quando você chegou ao Japão?
Eu fui estudar na KAI, que fica em Shin Okubo, o bairro coreano. Me mudei em outubro de 2017 e voltei no final de setembro de 2018. Infelizmente eu cheguei um dia antes das aulas começarem, o que deixou tudo corrido. Recomendo tentar chegar alguns dias antes, inclusive porque o Go! Go! Nihon oferece um evento para os novos alunos se conhecerem e para conhecerem a equipe deles.

Por que você resolveu vir ao Japão?
Bom, tudo começou com os animes e mangás. E ai fui expandindo e aprendendo mais sobre a cultura, comida, costumes etc. O Japão tem uma cultura e culinária riquíssimas, que vai além do anime e do sushi. E um dos principais motivos de morar mesmo no país foi para aprender e descobrir mais sobre isso tudo. E por mais que eu leia e pesquise, sempre descubro algo novo (nunca tinha ouvido falar de sushi de carne e lámen de curry). Recomendo a todos terem essa experiência de morar em uma cidade diferente da qual você nasceu/cresceu.

Por quanto tempo você estudou no Japão?
Eu estudei por um ano. Depois que acabou o curso, viajei um pouco pela Coreia, Hong Kong e Taiwan, e voltei para o Japão por mais um mês para dizer tchau.

Por que você decidiu estudar em Tokyo?
Bom eu sempre morei em cidades grandes, como São Paulo e Londres. Já morei em Dublin também, que é bem pequena. Definitivamente prefiro cidades grandes. Não que Kyoto ou Osaka não sejam grandes o suficiente, mas Tokyo é a capital e sempre me atraiu mais. Eu também tinha amigos já morando em Tokyo, o que facilita muito o processo de adaptação em uma cidade nova.

Como eram suas aulas?
As aulas eram basicamente divididas em gramática, kanji, conversação, leitura e escrita. Você estuda 4h por dia na escola, mas tem que estudar mais em casa ou você não vai conseguir fazer as provas (que são muitas) e avançar. Cada aula dura 50 minutos, com intervalos de 10 minutos entre cada uma. E nem pense em chegar atrasado, pois os professores são bem rígidos!

Na KAI, você tem um iPad para usar alguns materiais que eles produzem na escola mesmo. Ele é bastante utilizado nos três primeiros níveis. É prático ter o iPad para fazer anotações, usar o dicionário e fazer pesquisas (nem sempre é fácil entender toda a gramática só explicada em japonês!). Só não seja aquele aluno mala que fica vendo vídeos no YouTube e importunando os outros.


Onde você costuma ir depois das aulas?
Eu estudava de manhã, então tinha o resto do dia livre. Como o estudo é constante, muitas vezes voltava para casa para estudar ou ia estudar em algum café, sozinho ou com amigos. Eu também fazia alguns freelances, então tinha que ir para casa trabalhar um pouco.

De passeios, a escola fica perto de Shinjuku, então ia muito para lá. Tem sempre algum lugar novo ou restaurante para conhecer. E Tokyo é enorme, então sempre podia pegar o metro e ir para alguma região nova da cidade. A cidade conta com muitos museus (inclusive vários de graça), galerias de arte, fliperamas, cinemas, etc. A escola também promovia alguns evento e passeios também.

Como o Go! Go! Nihon ajudou você no processo de vir ao Japão?
No começo, eu mandei e-mails para algumas escolas e cada uma pedia documentos diferentes para o processo de visto/matrícula. Estava achando muito confuso. Então descobri o Go! Go! Nihon (acho que foi pelo Facebook) e eles foram uma mão na roda. Eles pedem os documentos necessários e aplicam para as escolas no seu lugar.
Como eles já conhecem os processos e as escolas, facilita muito. Eu também tinha dúvidas e receios em relação a algumas coisas, como idade, e eles me ajudaram com tudo.

Você viajou pelo Japão durante esse período?
Sim, viajei bastante. Eu já estive no Japão 3 vezes antes de ter me mudado para Tokyo, então conheço bem o Japão. Durante o meu ano, fui para Kurashiki, Matsushima, Sendai, Ishinomaki (que foi fortemente atingida pelo tsunami de 2011), Nikko, Matsumoto, Hakone, Hiroshima, Kyoto, Osaka, Kanazawa entre outros locais menores e mais perto de Tokyo.
Eu amo viajar e deixo de gastar com outras coisas para poder sempre visitar um lugar novo. Recomendo!

Em Kanazawa e Kurashiki, é possível ver partes do Japão antigo sem as multidões de Kyoto. Uma coisa bem legal e diferente, é pegar o trem noturno que sai de Tokyo e vai para Okayama, ao lado de Kurashiki. Okayama também tem um castelo lindo (porém reconstruído, então o interior é mais sem graça) e um dos três jardins mais bonitos do Japão, de acordo com o governo. Com esse mesmo trem, é possível ir até Izumo, na costa do lado oeste de Honshu. Izumo é bem pequena, mas lá se encontra um dos mais antigos e importantes templos xintoístas no país, o Izumo Taisha. Por lá também fica Matsue, que possui um dos 12 castelos originais do Japão (que não teve que ser reconstruído).

Você acredita que seu japonês melhorou bastante com os estudos?
Eu saí da Kai no final de setembro de 2018. Eu continuo estudando por conta própria, porém longe de ser na mesma intensidade. Não estou aprendendo muita gramática nova (mas kanji e vocabulário sempre), pois estou tentando praticar mais o que aprendi nesse ano no Japão (o que foi MUITA coisa).

Durante o meu ano, fui criando diversos decks de flashcards no Anki, e agora continuo usando eles para revisar.

Você aconselharia outras pessoas a virem estudar japonês no Japão?
Definitivamente! Foi uma experiência incrível e eu até queria ter ficado mais tempo. Você aprende muito, faz amizades, conhece gente do mundo inteiro e experimenta como é viver em um dos países mais avançados (e limpos) do mundo.

Uma dica é: tente já chegar lá dominando katakana, hiragana e alguns kanjis. Mesmo se você for para o nível 1, já te ajuda a se acostumar com o estilo de estudo da escola e ser menos impactante. Nesse começo também você precisa lidar com burocracias em japonês, portanto saber um pouco já ajuda.


Muito obrigado Andre por dividir conosco suas experiências de como foi ser um estudante brasileiro no Japão! Boa sorte em suas aventuras futuras!

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Go! Go! Nihon

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